Anúncios de cosméticos com laranjas, toranjas e citrinos. A vitamina C e a pele parecem indissociáveis. O dermatologista Jean Krutmann diz-lhe o que deve saber sobre este nutriente.
A pele não reconhece o valor ou a raridade dos ingredientes que os cremes cada vez mais contêm - ouro, por exemplo. A pele só sabe da eficácia dos seus componentes e, se analisarmos as campanhas de publicidade dos cosméticos nos últimos 20 anos, a vitamina C é quase omnipresente.
"A vitamina C é o antioxidante mais poderoso que se conhece para a pele. Tem a capacidade de proteger ou atenuar os efeitos negativos dos raios UVB, UVA e também os raios infravermelhos", confirma Jean Krutmann, professor de Dermatologia e director do Departamento de Saúde Ambiental da Faculdade de Dusseldorf.
O ser humano precisa desta vitamina, mas não a consegue produzir. Entram em cena os citrinos e outros alimentos ricos em vitamina C, os suplementos alimentares e uma dose de cremes e séruns. Jean Krutmann estuda os danos que os factores ambientais (UVA, UVB, infravermelhos) causam na pele. A investigação cosmética já tinha provado que a vitamina C - também conhecida por ácido ascórbico - é fundamental para a produção do colagénio e da elastina, que ajuda a prevenir a perda de água e tem ainda a capacidade de "desactivar" os radicais-livres antes de causarem danos à pele. Ao estimular a síntese e a produção de melanina, a vitamina C consegue ainda aclarar as manchas escuras na pele.
Com este potencial, percebe por que é que a indústria cosmética "venera" a vitamina C. "Para a sua utilização em cosmética ser eficaz, o truque é arranjar uma boa combinação entre a vitamina C e os restantes ingredientes para potenciar as suas acções", explica o especialista, que exemplifica: uma das melhores combinações é a que reúne a vitamina C com a E e com o ácido ferúlico. Nesta sinergia, crê Krutmann, está o futuro. "Assim pode diminuir-se a concentração da vitamina C nos produtos cosméticos e fazer com que eles sejam mais bem tolerados pela pele, para além de baixar os custos de produção dos cosméticos e torná-los mais baratos para os consumidores."
Vitaminas segundo a idade
A dose diária de vitamina C recomendada para os homens com idades entre 19 e os 70 anos é de 90 miligramas/dia e, para as mulheres da mesma faixa etária, a dose é de 75 miligramas. Ora, para se chegar à dose recomendada de vitamina C, tem de se consumir, em média, uma laranja e meia por dia.
Por ser uma vitamina muito instável - que reage ao calor, ao ambiente e à luz -, só o simples acto de cortar uma laranja já faz com que se perca alguma percentagem de vitamina C. "O maior problema da vitamina C é que oxida muito depressa. Por isso, teve de se encontrar uma forma de prevenir/retardar a oxidação - até porque, se ela oxidar antes de entrar nas células da pele, o efeito pode ser adverso.
Os maiores passos para potenciar a penetração da vitamina C foram dados pelo dermatologista e investigador Sheldon Pinnel, da Universidade de Duke, nos EUA. Foi o pioneiro na estabilização da vitamina C, que garante a acção do produto, e conseguiu associá-la a outros antioxidantes. Sheldon Pinnel criou a sua própria marca de dermocosméticos - a SkinCeuticals, fundada em 1997, chegou a Portugal no último trimestre de 2011 e aposta na prevenção, na protecção (para uma pele saudável) e na correcção (dos sinais visíveis de danos ou envelhecimento) com um ingrediente-chave: a vitamina C.
"Ao associar na mesma fórmula activos antioxidantes muito potentes (a vitamina C pura, por exemplo) e uma acção sinérgica comprovada (entre a vitamina C pura, a vitamina E pura e o ácido ferúlico), os estudos mostram que a pele pode não só compensar o seu próprio défice de antioxidantes, como estimular os mecanismos de autodefesa para neutralizar da melhor forma os radicais livres, chegando mesmo a reparar as lesões existentes", diz o director de produto da SkinCeuticals em Portugal, Pedro Perpétua.
Conselhos finais: "Começar aos 17 anos é o ideal; aos 35, já vai tarde porque as rugas e as manchas de melanina já se estão a desenvolver", frisa Krutmann; "Se não teve demasiada exposição ao sol, um produto de tratamento diário, com um SPF 20, é suficiente. Se for uma pessoa mais exposta ao sol, tem de usar um factor de protecção maior. Se fizerem isto, quando chegarem aos 50/60 anos, vão parecer muito mais jovens."
Artigo publicado na edição de 22 de Janeiro da revista Pública
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